Há uma nova espécie urbana em ascensão. Eles usam camisa de linho, andam de bicicleta e possuem um vasto conhecimento sobre opressão patriarcal — que, coincidentemente, só lembram de mencionar quando há mulheres por perto. São os homens que se dizem feministas. Mas não se engane: o feminismo, para eles, é menos um movimento social e mais uma técnica de sedução.
Eles surgem geralmente em ambientes propícios, como saraus anticapitalistas, rodas de conversa sobre masculinidade tóxica ou festas onde todos sentam no chão. Você os reconhecerá pelo discurso, cuidadosamente ensaiado no espelho do banheiro, provavelmente entre um podcast e outro sobre “desconstrução”.
“Eu acho que os homens precisam mesmo ouvir mais e falar menos”, eles dizem, imediatamente após terem falado por mais de 40 minutos.
A estratégia é simples: repetir frases que parecem saídas de um post do Instagram, com a mesma profundidade de quem leu a legenda mas pulou o texto. Eles nunca leram O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, mas sabem dizer “ninguém nasce mulher, torna-se mulher” com a entonação certa e um olhar melancólico que diz: “eu entendo sua dor, e por isso mereço sexo”.
Eles têm opinião formada sobre o aborto, o patriarcado e a cultura do estupro — todas retiradas diretamente de uma thread do X que compartilharam com a legenda “precisamos falar sobre isso”. O único tema que eles evitam profundamente é: lavar a louça. Porque, para eles, a luta feminista é conceitual, não prática.
O mais interessante é que eles sempre parecem “entender” as mulheres. Claro que entendem. Se você passa a vida estudando um animal, eventualmente aprende a se camuflar no seu habitat. São como aqueles pássaros que imitam o choro de bebê pra atrair presas.
Estes homens são mestres na arte da camuflagem. Estudaram o comportamento feminino com o mesmo afinco de um agente da CIA infiltrado. Sabem exatamente quando fazer silêncio, quando dizer “isso é muito válido” e quando soltar a bomba “'Nem todo homem, mas sempre um homem.” Essa frase, aliás, é tão eficiente quanto um motel pago. E, às vezes, substitui o motel.
O mais curioso é que, em seu íntimo, eles se convencem de que estão fazendo algo revolucionário. Mal percebem que são, na verdade, a versão 2.0 do cafajeste clássico — aquele que antes dizia “só confio em mulher” e agora diz “homem tem que morrer, começando por mim”. A diferença é que o cafajeste antigo era sincero. Já esse novo modelo vem com um falso discurso de empatia e uma bolsa de pano com estampa da Frida Kahlo.
No fim das contas, o homem feminista de ocasião é só mais um. Mas com marketing. Um tipo que pensa que, para chegar ao coração (e à cama) de uma mulher moderna, basta decorar alguns conceitos, usar a palavra “estrutural” com frequência e, claro, fingir que não está tentando exatamente o que todos os outros estão: transar.
Porque, veja bem, ele não é como os outros. Ele é pior. Só mais bem disfarçado. No fim, são só machos-alfa reciclados: vêm com menos pelos no peito e mais hashtags no Instagram.
Felipe Attie